Festival de Cinema de Cannes. Wes Anderson: "Trump está brincando com vidas humanas"

O cineasta americano apresentou o comovente "The Phoenician Scheme" em competição na noite deste domingo, com diversas estrelas, incluindo Benicio del Toro.

Com suas meias rosas, camisa verde-maçã e cabelos de comprimento médio, Wes Anderson, de 56 anos, lembra os personagens de seus filmes. Chique e único.

Os últimos longas-metragens deste virtuoso da imagem deixaram-nos perdidos: formalmente perfeitos, mas pouco comoventes. Em "The Phoenician Scheme" , ele não renuncia à sua inventividade, mas nos cativa ao explorar a tocante relação entre um magnata das armas, embriagado de poder, Zsa-Zsa Korda, e uma de suas filhas, uma freira, sua oposta, a quem ele deseja ceder seu império. O filme, que será lançado em 28 de maio, foi apresentado em competição na noite de domingo em Cannes, na presença de um elenco cinco estrelas: Benicio del Toro, Tom Hanks, Scarlett Johansson...

Como surgiu a ideia de abordar a relação entre um pai e sua filha?

Acho que me tornar pai de uma filha que agora tem 9 anos foi um momento decisivo. Mas eu não sabia disso quando escrevi o roteiro.

Benicio del Toro carrega toda a história, dando-lhe uma humanidade louca...

Tudo começou com meu desejo de trabalhar com ele novamente. Seu carisma é muito intimidador e, ao mesmo tempo, há uma gentileza real em seu olhar. Falei com ele sobre esse projeto logo depois da nossa colaboração em "The French Dispatch", em 2021. Eu tinha uma ideia muito vaga do roteiro, mas uma convicção: o personagem era ele.

Seu estilo é muito identificável, consistente de filme para filme. Isso pode ser uma forma de confinamento?

Minha sensibilidade é fortemente expressa visualmente. Fico feliz quando as pessoas me dizem que meus filmes são diferentes de todos os outros. Mas seria errado pensar que é sempre a mesma abordagem; sempre há variações. Para "The Phoenician Scheme" usei mais close-ups, a fotografia é mais escura...

Você é frequentemente associado a Hergé e Tintin…

Sinto-me lisonjeado, adoro as linhas claras dos desenhos de Hergé, mas não acho que ele tenha sido realmente uma influência porque descobri Tintim bem tarde, aos 13 anos. E em alemão, na casa de um amigo austríaco! Então eu não entendi muita coisa (risos).

“Tudo começou com meu desejo de trabalhar com Benicio del Toro novamente.”

Seus filmes são falsamente alegres, verdadeiramente melancólicos...

A morte está muito presente lá. Nesta mais do que nunca, porque Zsa-Zsa entende que ao contrário do que acreditava em seu excesso, ele não é imortal.

Este empresário poderoso, brutal e cínico brinca com vidas humanas... Pensamos em Trump ou Musk...

Sim, é assim que eu os vejo: esses caras estão brincando com vidas humanas, com populações, como se o mundo fosse apenas um jogo de xadrez. A história está cheia de figuras assim, mas elas nunca me pareceram tão numerosas e influentes no cenário internacional como hoje. Quanto ao atual presidente dos Estados Unidos, certamente sou americano, mas moro na França, então estou acompanhando essas notícias com distância. Eu nem entendo algumas das declarações dele. "100% de impostos" sobre filmes estrangeiros significa que o governo vai confiscar toda a receita? Tudo isso me parece bastante irreal.